quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Crescer e Viver!


por Denise Homem

Nosso entrevistado é o coordenador da ONG Crescer e Viver, Júnior Perim. Vítima do trabalho infantil, desde os oito anos catava caranguejo no litoral fluminense. Aos 11, matava galinhas num abatedouro de São Gonçalo (RJ), com jornadas diárias que chegavam a 15 horas de trabalho. Começou a estudar aos 14 anos e ingressou em movimentos comunitários junto à escola de samba Porto da Pedra. Atuando com jovens de baixa renda, fundou em 2000 o programa social de arte-educação ‘Crescer e Viver’ que em 2003 virou uma organização não-governamental.

Hoje, Junior Perim coordena dois centros. Um deles fica no município de São Gonçalo, onde acontecem oficinas de teatro, dança, capoeira, grafite e basquete de rua para 200 pessoas carentes entre 7 e 24 anos. Já na lona do circo da Praça Onze, no Rio, são treinadas 300 pessoas em 16 tipos de oficinas circenses, de acrobacias, trampolim acrobático, malabares e equilibrismo.

Além de interlocutor internacional da Rede Circo do Mundo Brasil, junto ao Cirque du Soleil, e da chancela da Unesco, Perim foi cavando cada vez mais espaço. “Com o apoio do Sebrae no Rio de Janeiro, introduzi técnicas de economia criativa, pois entendia que a inclusão social exigia também inclusão econômica”, afirma. Com patrocínio da Petrobras passou a produzir e vender a marca do seu circo em bolsas, roupas e acessórios.


Denise Homem - O que é o projeto “Crescer e viver”?

Júnior Perim – Somos uma organização não governamental que associa a cultura e as artes circenses a conceitos pedagógicos, dando forma a metodologias de educação para cidadania e de inclusão produtiva de crianças, adolescentes e jovens, visando impactar na formação de uma geração de sujeitos criativos e capazes de realizar transformações em suas vidas e contextos em que estão inseridos.

D.H.- Como é a prática do “circo social”?

J.P. – O grupo empreende atividades onde o ensino e a aprendizagem circense promove a elevação da autoestima, a construção da autonomia e a ampliação da cidadania em crianças, adolescentes e jovens, alguns em situação de risco de rua, investindo para que se transformem em uma nova geração. Formamos atores da mobilização sociocultural e buscamos a redução de vulnerabilidades com a consolidação de suas identidades. Queremos empreender as transformações sociais pela arte, mudando não só o curso de algumas vidas, mas os contextos em que elas estão inseridas.

D.H.- Como você vê a atual política para a cultura brasileira?

J.P. - Vivemos o tempo global de (re)significação do papel produtivo da cultura. O tempo de conformar interesses, de valorizar as diferenças sem permitir o sectarismo das distinções entre grandes e pequenos, públicos e privados, governamentais e não governamentais, que produzem e fazem arte no Brasil, e de romper com a fragmentação e disputadas de agendas. O tempo é de juntar todas as formas de expressão artística e cultural, os diferentes poderes, instituições e órgãos públicos das diferentes esferas de governo, para fazer um pacto republicano que aproprie a diversidade cultural brasileira e faça fonte geradora de uma nova cultura de direitos, à favor de um Estado capaz de ampliar as oportunidades de inclusão produtiva, sobretudo para as camadas mais afetadas por uma estrutura concentradora de riqueza e geradora da desigualdades, tendo nas cadeias produtivas e de valor os meios para alcançar este fim.

D.H. – Fale um pouco do intercâmbio entre Rio de Janeiro e Piacenza.

J.P. – Em agosto passado recebemos a visita de italianos de Piacenza. Eles estavam com o secretário de políticas públicas juvenis da cidade, Giovanni Castagnetti e queriam conhecer mais sobre as atividades realizadas com crianças e jovens e participar de um intercâmbio. Fizemos um almoço com os jovens monitores, eu, o Coordenador de Projetos Vinicius Daumas e os visitantes. Em seguida, nos juntamos aos educandos da Escola de Circo Social e durante toda a tarde mostramos a magia do circo. A visita foi organizada pelo Município de Piacenza cujo objetivo foi possibilitar aos jovens conhecer projetos sociais de outras identidades. Recebemos também Danila Pancotti, de uma organização de cooperação italiana que apoia projetos em países em desenvolvimento em diferentes partes do mundo. Como não poderia deixar de ser, encerramos o encontro com uma apresentação circense.

D.H. – Novos planos para 2011?

J.P. – Fortalecer o Programa de Formação do Artista de Circo (Profac), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro que está em fase de seleção dos alunos. Serão dois anos de formação e nossa luta é pelo reconhecimento de curso tecnológico pelo Ministério da Educação. A Europa tem tradição de escolas de Ensino Superior e profissionalizantes de circo. Canadá e Austrália também têm instituições importantes. Por isso, pensamos em fazer algo inovador no Brasil, baseado em nossa experiência e inspirado nos projetos dos principais centros de formação para as artes circenses no mundo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário